Melhora na atenção à saúde muda Jaguariúna

 

 

Zerar a mortalidade infantil em Jaguariúna no ano passado e ver a cidade ser reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio do Americas Award 2010 é, para a ginecologista e obstetra Benedita de Fátima Machado de Sousa, diretora de saúde da cidade, resultado de ações e programas conduzidos pelo princípio da humanização no atendimento. "É a diferença que faz o acolhimento, desde o diagnóstico. A gestante chega ao posto de saúde com atraso menstrual e é bem recebida, atendida prontamente", diz.
Benedita informou que o resultado do exame para confirmar a gravidez sai em uma semana. "Se for positivo, a consulta já é marcada." A ONU preconiza sete consultas durante a gravidez. "Nós fazemos dez", diz ela.
Por meio do diagnóstico precoce da gravidez e do acompanhamento médico, é possível detectar doenças na gestante e no feto e reduzir riscos de mortalidade. Em 2008, o índice de mortes na cidade, a cada mil nascidos vivos, foi de 11,7. A média dos últimos cinco anos era de 8,3.
Em 2009, foi zero. A média nacional em 2007 era de 20 a cada mil, segundo o IDB 2009.
A quantidade de médicos na rede não mudou: são oito ginecologistas e obstetras. Mas os atendimentos ganharam fôlego e planejamento de prioridades. Com isso, das 3.905 consultas de pré-natal realizadas em 2008, o número saltou para 4.295 no ano passado. Dos 80% de grávidas que fizeram sete consultas ou mais em 2008, o índice foi para 98% em 2009. Os exames de gravidez cresceram de 1.574 para 1.729 e as ultrassonografias em gestantes, foram de 1.060 para 1.153, em um ano.
Segundo a secretária de Saúde de Jaguariúna, Maria do Carmo de Oliveira Pelisão, foram feitos investimentos em tratamento de água, campanhas de vacinação, saneamento básico, programas educacionais sobre higiene pessoal e sanitária, aleitamento materno e nutrição infantil, sobretudo em comunidades carentes. E iniciou-se o Programa de Revitalização da Saúde, no qual foram estabelecidas ações para a saúde da mulher e da criança e protocolos de enfermagem, ginecologia e obstetrícia que incluíram diagnóstico precoce de gravidez, início precoce de pré-natal, realização de todos os exames necessários e de no mínimo sete consultas na gestação e estímulo à amamentação exclusiva.
A secretaria criou o Programa Cuidando e Sendo Cuidado, de atenção à gestante e ao bebê, com garantia de consulta até após o parto, com prazo máximo de dez dias após o nascimento da criança. Em 2009, o Hospital Municipal Walter Ferrari ganhou ala pediátrica e farmácia 24 horas. "Todas as crianças que precisavam de internação tinham de ser transferidas para outros hospitais. Agora, ficam aqui. E as que vêm para consulta são atendidas, as mães pegam a receita e já retiram a medicação na farmácia, com 75 itens de urgência e emergência", disse Benedita.
Confiantes. A auxiliar de produção Lucimara Refundini, de 22 anos, acompanhou a gravidez e o parto da irmã, Rosemara, de 27, em 2005. Hoje, com seu filho Luís Gustavo, de 3 meses, ela diz ter se sentido mais segura que a irmã. "Era bem diferente ter nenê aqui. Parece que agora a gente pode ficar mais confiante de que as coisas vão dar certo."
"Não tive problema nenhum para ser atendida durante os nove meses de gravidez", afirmou Lucimara. "E ainda fiz gratuitamente um curso de quatro semanas para gestantes. Eu não sabia que não podia usar lenço umedecido durante o primeiro mês, só soube por causa do curso."
Cintia Cibele Soares de Vasconcelos, de 28 anos, também disse ter se sentido "cuidada" durante a gravidez pelos profissionais da Saúde de Jaguariúna. Mãe de Jaelson, de 6 anos, teve Jaedson há menos de um mês. "Foi diferente meu primeiro pré-natal e esse aqui. Agora parece que eles estão dando mais atenção para a gente."
Reconhecimento. O serviço de saúde exemplar deu fama internacional a Jaguariúna. Na segunda-feira passada, o prefeito Gustavo Reis (PPS), de 38 anos, foi receber um prêmio da ONU por zerar o índice de mortalidade infantil. Era o único representante brasileiro na solenidade. Entre as personalidade que compareceram estavam o presidente de El Salvador, Maurício Fumes, o vice do Panamá, Juan Carlos Varela, e o vice da Colômbia, Angelino Garzon. Varela ficou impressionado com os resultados de Reis. "Fui convidado a fazer uma palestra sobre o programa", orgulha-se. "Pretendo passar o modelo adiante, principalmente para a cidades do município de Campinas", diz ele, há dois anos no governo. A ONU premiou políticas públicas que se aproximaram das metas do milênio. /

COLABOROU VALÉRIA FRANÇA
Tatiana Fávaro / CAMPINAS - O Estado de S.Paulo