Por que muitas pessoas não vêem cumpridas em suas vidas as revelações de Deus?
Veja o que Paulo disse a Timóteo: “Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto: combate, firmado nelas, o bom combate” (1 Tm 1.18). Timóteo deveria agarrar as profecias das quais havia sido alvo e, firmado nelas, COMBATER! “Combate o bom combate da fé” (1 Tm 6.12a). O próprio apóstolo Paulo entrou na mesma guerra. Veja o que ele afirmou: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).
Infelizmente, a maior parte das pessoas não combate segundo a revelação que Deus lhes deu. Isso bem demonstra que, embora Deus tenha propósitos conosco, existe o livre-arbítrio. Assim, podemos rejeitar a revelação de Deus, ou mesmo não combater por ela, motivos pelos quais acabamos por não alcançá-la.
Algumas situações nos impedem de alcançar a revelação. A vida de Abraão bem ilustra isso. Em Gn 12.1-3, lemos: “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” A revelação de Deus para Abraão era dividida em quatro partes: 1) Deus lhe daria uma terra. 2) Deus lhe daria uma descendência. 3) Deus o abençoaria. 4) Deus engrandeceria o seu nome.
Nessa ocasião, Abraão tinha 75 anos. Sua esposa, Sara, tinha 65 anos e era estéril. Mas, além da esterilidade de Sara, problema que só poderia ser resolvido pelo próprio Deus, havia, na vida de Abraão, alguns obstáculos para a concretização da promessa de Deus. Veremos, por ora, dois desses obstáculos.
Primeiro obstáculo: envolvimento e confiança nas heranças do mundo, incompatíveis com a revelação divina
Abraão precisava de um herdeiro para passar todos os seus bens. Mas ele sabia que sua esposa era estéril. Então, escolheu seu sobrinho Ló, e investiu nele. Porém, Deus havia ordenado que Abraão saísse do meio da sua parentela. “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai e vai para a terra que te mostrarei” (Gn 12.1). Ele obedeceu, porém não integralmente: “Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o Senhor, e Ló foi com ele” (Gn 12.4). Quando levou Ló consigo, ele passou a carregar algo que era incompatível com a revelação de Deus.
Da mesma forma, a herança que trazemos de nosso passado é incompatível com a revelação que Deus tem para nós. Podemos até caminhar um pouco, mas chegará um momento em que a situação torna-se insustentável: ou ficamos com a revelação e avançamos, ou ficamos com “Ló” e retrocedemos. A revelação mundana e a divina começam a se chocar, pois não podemos servir a dois senhores. Assim como não havia espaço na terra para os rebanhos de Ló e de Abraão, não há espaço em nossas vidas para o mundo e para Deus. Era por essa razão que Abraão andava, andava e andava, mas Deus não lhe mostrava a terra que lhe daria. Na verdade, ele já estava em cima de Canaã, mas, por carregar algo que não estava de acordo com a revelação de Deus, não conseguia tomar posse da terra.
Quantos de nós estamos esperando o tempo da bênção de Deus, e não nos damos conta de que o tempo já chegou? A questão é que, enquanto não largarmos o nosso “Ló”, não conseguiremos ver o que Deus tem para as nossas vidas.
Quando, finalmente, Abraão separou-se de seu sobrinho (Gn 13.8-11), veja o que o SENHOR lhe disse: “Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência” (Gn 13.14-16). Quando Abraão venceu este primeiro obstáculo, Deus começou a cumprir a promessa da terra e renovou a promessa da descendência.
Segundo obstáculo: a vontade natural da carne
“Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos; tendo, porém, uma serva egípcia, por nome Agar, disse Sarai a Abrão: Eis que o SENHOR me tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai. Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar, egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de ter ele habitado por dez anos na terra de Canaã. Ele a possuiu, e ela concebeu. Vendo ela que havia concebido, foi sua senhora por ela desprezada” (Gn 16.1-4).
A revelação de Deus também não se cumpre na vida de muitos por causa de suas decisões carnais. Quando Sara e Abraão tomaram uma decisão baseados em sua vontade carnal, imediatamente os problemas começaram naquela família. Agar desprezou Sara, e Sara se queixou para Abraão. Sara mandou Agar embora e parecia que estava tudo resolvido. Quando Agar estava fugindo, o Anjo do Senhor (o próprio Jesus) ordenou que ela voltasse para a casa de Abraão (Gn 16.9). Abraão errou e teria que pagar pelo seu erro. Quando nasceu Ismael, Abraão tinha 86 anos de idade. Entre os 86 e os 90 anos, Abraão não gerou filhos e tudo indicava que Ismael realmente seria seu herdeiro. Nesse período, Abraão era um homem amortecido, impotente para gerar filhos (Rm 4.19; Hb 11.12). Quando Abraão estava com 90 anos, Deus teve um encontro com ele e lhe prometeu restaurar a fecundidade: “Far-te-ei fecundo extraordinariamente” Gn 17.6.
Nove anos depois (Ismael já tinha 13 anos), Deus teve um novo encontro com Abraão. Sara já estava com 89 anos. Então, Deus visitou Sara e cumpriu o que lhe havia prometido (Gn 21.1). A promessa cumpriu-se exatamente no tempo determinado por Deus.
Quando as coisas não caminham da maneira que pensamos ser o correto, temos a tendência de tentar dar uma “ajudinha” para Deus. Foi o que Sara procurou fazer. Porém, os resultados foram desastrosos. Não adianta dar um jeitinho, uma ajuda para Deus. Temos simplesmente que nos submeter a Ele. Agar representa a carne; Ismael, as obras da carne, e Isaque, o fruto do Espírito. Não é por meio de Ismael, é por meio de Isaque que Deus cumpre a Sua promessa. Não podemos esquecer: a revelação de Deus não se cumpre com as coisas da carne, mas com as coisas do Espírito.
Não há como conciliar carne e Espírito
Como Isaque seria o sucessor de Abraão, segundo a promessa divina, se Ismael era o primogênito e herdeiro por direito? Quando Ismael tinha por volta de 14 anos, nasceu Isaque. As obras da carne já estavam grandes, e o fruto do Espírito, um nenezinho. Mas entenda: o Espírito e a carne não podem habitar juntos, pois existe uma guerra entre eles. Existe uma batalha travada entre as revelações de Deus e as nossas idéias carnais. Enquanto estiverem juntos, os dois irão brigar, assim como Ismael começou a caçoar de Isaque. Sara viu aquilo e entendeu pelo Espírito de Deus que era necessário escolher: ou a revelação de Deus morreria ou era necessário mandar Ismael embora. Se Ismael ficasse, eles iriam brigar e, provavelmente, Ismael, que já era um adolescente de 17 anos, mataria o pequeno Isaque, de 3 anos. Da mesma forma, não podemos conciliar carne e espírito. A carne não deve ser controlada, mas crucificada. Por mais difícil que seja, precisamos mandar “Ismael” embora. É um ou outro.
Abraão mandou Ismael embora, mas isso lhe foi penoso. “Pareceu isso mui penoso aos olhos de Abraão, por causa de seu filho” (Gn 21.11). Mui penoso, no original grego, significa extremamente estremecedor, o que dá-nos a idéia de que Abraão chorava convulsivamente diante da decisão que ele teria que tomar. Suas emoções lhe arrebentavam o peito, afinal, Ismael era seu filho. Deus havia ordenado que ele mandasse Ismael embora ou a Sua revelação morreria. Por isso, ele escolheu a revelação de Deus. Então, com tristeza, despediu Agar e Ismael, que saíram errantes pelo deserto de Berseba.
Por que será que Deus não anestesiou o coração de Abraão? Por que Deus permitiu que ele estremecesse nas suas emoções?
Para essas perguntas, há, pelo menos, três respostas:
1. Deus nos permite sofrer quando temos que abandonar algo que não vem dEle porque não foi Ele quem nos deu. Deus não tem compromisso com o sofrimento gerado pelas nossas carnalidades. Deixar as coisas da carne dói porque isso significa deixar certos deleites, satisfações e prazeres, ainda que passageiros.
2. Pela vontade permissiva de Deus. Se alguém se jogar do sétimo andar, não pode culpar Deus por ter-se fraturado. Arrancar o que se plantou na carne dói, mas Deus nos chama para mandarmos embora o “Ismael” da nossa vida. Deus está dizendo para você deixar essas coisas que estão atrapalhando a revelação de Deus na tua vida. Você pode gostar delas, você pode até amar esses hábitos e costumes, mas você deve deixá-los, para que as promessas de Deus se cumpram em ti.
3. Para que saibamos que as decisões na carne têm uma conseqüência. Se fizéssemos as coisas erradas e no final ficasse tudo tranqüilo, os homens seriam ainda mais terríveis. Para que não venhamos a cair mais no mesmo erro, Deus permite que, a cada decisão errada que tomamos, nós soframos e gemamos para sairmos daquela situação.
Devemos amar a Deus mais do que amamos as bênçãos que Ele nos dá
Mas veja que interessante: a mesma experiência que Abraão teve com Ismael ele teve com Isaque. Assim como Deus disse para Abraão mandar embora a Ismael, um dia Deus disse para Abraão sacrificar Isaque. “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei” (Gn 22.2). Mas Isaque não era a revelação de Deus? Sim, era. Mas dessa vez, Abraão ficou tranqüilo. Embora amasse Isaque, Abraão não chorou. O pedido de Deus não lhe foi penoso. Tanto é assim que Abraão obedeceu imediatamente (Gn 22.3).
Por que Deus pediu que Abraão matasse Sua própria revelação? O que isso significa? Isso nos mostra que Deus não quer que amemos mais a revelação do que a Ele. Ele não quer que amemos nossos ministérios mais do que a Ele. Ele não quer que amemos mais as bênçãos que Ele nos dá do que a Ele. Aqui está a grande diferença: quando as coisas são nossas, são da carne, é doído largá-las; mas quando estamos no Espírito, nada é nosso, tudo é de Deus. Veja: para largar Ismael foi uma guerra. Já para largar Isaque, não foi difícil. Abraão não sofreu porque ele sabia que Isaque não era dele, mas era de Deus. Veja o que ele disse para Isaque: “Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gn 22.8).
A Bíblia diz em Hb 11.17: “Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a quem se tinha dito: ‘Em Isaque será chamada a tua descendência’; porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos...”. Você não pode idolatrar o seu ministério, a sua mensagem, ou o seu louvor. Muitas pessoas perderam seus ministérios porque amaram mais o ministério do que a Deus. Outras pessoas, após receberem uma grande bênção de Deus, esquecem daquele que as abençoou.
A mensagem de Deus através do sacrifício de Isaque é esta: se você quer realmente que as promessas cumpram-se em sua vida, tenha coragem de sacrificar a Deus tudo o que pode ocupar o Seu lugar. Não permita que nada tome o lugar do Senhor. Agindo assim, mesmo que a revelação que Deus tem para você pareça estar morta, Deus irá ressuscitá-la!
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