O uso de um crucifixo, seja no pescoço ou na parede, nenhum benefício trará para o ser humano. A redução dos objetos mencionados na bíblia à mera condição de amuletos é uma prática lamentável e inútil.
O que importa, de fato, é uma compreensão do real significado da cruz de Cristo, ou melhor, da sua morte e também de sua ressurreição e seus efeitos em nossas vidas, sem os quais seremos apenas adeptos de uma religião vazia. A mensagem da cruz, embora seja “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”, é o centro do evangelho (ICo.1.18-25; 2.2; Gl.6.14). Precisamos compreendê-la da melhor forma possível, para não perdermos sua eficácia em nossa vida. Ainda que nossa compreensão não seja tão profunda, nossa fé consciente deve alcançar os benefícios do Calvário.
A morte de Jesus foi a execução da justiça de Deus sobre o pecado humano. Ele não merecia morrer, pois era inocente, mas foi exatamente por isso que sua morte teve valor eterno e absoluto diante de Deus.
No momento da nossa conversão, quando cremos na morte e ressurreição de Cristo como sendo a única alternativa para a nossa salvação e declaramos nossa aceitação de seu sacrifício, acontecem, no mundo espiritual, os seguintes fatos:
- Somos remidos – perdoados dos nossos pecados (Col.1.14).
- Somos justificados – passamos a ser justos diante de Deus (Rm.3.24; 5.1).
- Somos redimidos – comprados – passamos a ser servos de Deus, sua propriedade (Rm.3.24).
- Somos reconciliados – passamos a ser amigos de Deus (Rm.5.10).
- Somos adotados – passamos a ser filhos de Deus (Rm.8.16).
A salvação tem todos estes e mais alguns aspectos.
Sob o ponto de vista de Deus, tudo isso aconteceu quando Cristo morreu e ressuscitou e não agora, mas vamos analisar sob a nossa perspectiva experimental.É como se um mendigo fosse tirado da sarjeta e tomasse um banho, ganhasse roupas novas, uma família, um nome e uma posição de honra. É exatamente o que acontece conosco quando cremos em Jesus e o recebemos como nosso único e suficiente salvador.É de extrema urgência a necessidade de compreendermos cada uma das palavras supracitadas. Se não nos conscientizarmos de seu significado, corremos o risco de não assumirmos nossa nova posição espiritual, de modo que continuemos em nossos velhos trapos. É como se o mendigo ficasse satisfeito com um pedaço de pão e não se levantasse para receber todos os outros privilégios de sua nova condição.
A experiência da conversão, com base nos efeitos da cruz, é algo revolucionário no mundo espiritual. Talvez o próprio pecador não esteja bem a par do que lhe sucedeu. É como se o filho pródigo, voltando para o lar, insistisse naquela idéia de ser apenas um dos trabalhadores do pai, não querendo entrar na casa, nem vestir seus novos trajes, nem calçar suas sandálias, nem receber o anel representativo de sua posição de autoridade.
Afinal, ele não se sentia merecedor de coisa alguma, mesmo porque sua parte da herança já tinha sido ganha e desperdiçada. Precisamos tomar posse do que Jesus fez por nós, de tudo aquilo que ele conquistou com o seu precioso sangue. Essa apropriação segue as seguintes etapas:
- Saber o que Jesus fez – pelo conhecimento da palavra. - Crer na eficácia do que Jesus fez. - Considerar-se participante, portanto, beneficiário da herança de Cristo.
É saber para crer e crer para viver. A palavra gera fé e a fé gera resultados. O que cremos determinará o nosso modo de vida. Se somos filhos, somos herdeiros. É o argumento de Paulo, quando falava dos efeitos da obra de Cristo (Rm.8.17). Depois da limpeza, o que recebemos? Justiça (roupa) e autoridade (o anel). O que Deus tem de melhor para alguém, ele o tem para mim. Este deve ser o pensamento de todo filho de Deus. Porém, este pensamento não pode ser contaminado pelo materialismo nem pela falsa teologia da prosperidade, alegando que o cristão deve ser financeiramente rico. Imagine um filho que só vê no relacionamento com o pai uma forma de ganhar presentes e dinheiro. Seria um relacionamento deturpado. Deus pode nos dar todo o dinheiro do mundo, mas a obra de Cristo na cruz não tem nenhuma relação com este assunto. O que o Senhor quer é que nos conscientizemos de nossa riqueza espiritual. Riqueza material o ímpio também tem. No entanto, vive na miséria espiritual. O destaque do cristão, rico ou pobre, deve estar em seu caráter, em sua autoridade espiritual, na manifestação do poder de Deus em sua vida, na produção abundante do fruto do Espírito. O resto é secundário.
A experiência da conversão, incluindo justificação, remissão, redenção, adoção e reconciliação, é apenas o início da caminhada cristã. É o ponto de partida. Aí começa um processo chamado santificação. É um caminhar rumo à glória celestial. Paulo, escrevendo aos romanos, disse que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm.3.23). O evangelho tem por objetivo exatamente conduzir-nos de volta à glória. A santificação é este movimento rumo à glória (Heb.2.10). Neste mundo, já temos um pequeno “adiantamento” do que será o gozo celestial. “Nos gloriamos na esperança da glória” (Rm.5.2). É uma expressão redundante, porém, interessante. É como a alegria de alguém que está se preparando para uma festa. É um regozijo por antecipação. Esta é a genuína alegria do cristão, sem a necessidade de causas aparentes ou circunstanciais.
Entretanto, esta esperança nos mostra que nossa glória não está neste mundo, como alguns gostariam. Não podemos voltar nossa fé apenas para objetivos físicos e materiais. É claro que podemos pedir muitas coisas ao Senhor, mas nosso foco deve ser espiritual, buscando saber e cumprir o propósito pelo qual o Pai ainda nos mantém neste mundo. O caminho chamado santificação não é fácil. Ele inclui renúncia, tribulações, sofrimento (Rm.5.3). Não um sofrimento pelo pecado, mas para o nosso crescimento. Não devemos desanimar diante das aflições deste mundo (Jo.16.33). Lembremo-nos de que estamos a caminho da glória de Deus. A glória celestial é indescritível. Primeiro, porque não sabemos como ela é; segundo, porque não está ao alcance da mente humana imaginar, supor ou prever o que será. Na carta aos romanos, em todo tempo o autor tem em mente a questão da glória. Ele disse:
“as aflições deste mundo presente não são para se comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm.8.18).
Jesus passou pela pior de todas as aflições ao ser morto de forma cruel. Três dias depois, ele ressuscitou, mas, antes que ele pudesse retornar definitivamente para a glória celestial, mais quarenta dias ainda se passaram. A trajetória do mestre também é a nossa, pois estamos seguindo os seus passos. Antes de entrarmos na glória, precisaremos ser aperfeiçoados neste mundo. Antes que os israelitas pudessem entrar em Canaã, precisaram andar no deserto durante 40 anos. É claro que Deus desejava que eles tivessem entrado mais rapidamente, mas é o ser humano que atrasa a concretização dos desejos de Deus em suas próprias vidas. Depois que atravessarmos o nosso deserto neste mundo, entraremos pelos portões celestiais, sem medo, mas com ousadia, sabendo que o nosso acesso foi aberto por nosso Senhor Jesus Cristo, que foi adiante de nós preparar o nosso eterno lar.
Autor: Anísio Renato de Andrade
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